Como você está?
Como você está? Quem é você?
O que está pensando? O que está fazendo?
Somos bombardeados por
perguntas profundas, pelo menos do meu ponto de vista, o tempo todo e optamos
por responder automaticamente, primeiro porque não é bem visto socialmente
respostas negativas ou refletidas, também porque poucas pessoas querem
realmente saber se está tudo bem com você ou o que você está pensando,
especialmente se for livre de julgamentos.
Desta forma, comumente não
refletimos sobre as indagações filosóficas da vida, pois as questões práticas do dia a dia
tendem a nos engolir e não conseguimos, não podemos e não devemos pensar nada
além das contas a pagar, do orçamento que extrapola o salário mensal e dos
trabalhos maçantes que consomem maior parte de nossos dias. Não sobra tempo e tampouco
energia para reflexões.
Existir é uma atividade
complexa, por isso responder questionamentos tidos como simples não é tarefa fácil,
especialmente se considerarmos que somos uma colcha de retalhos, fruto de
experiências inconscientes costuradas à nossa existência. Somos reflexo de
várias gerações anteriores à nossa (nossos ancestrais), da nossa geração atual
e de tudo e todos que passaram por nossas vidas.
Quem realmente você é? Como
você, apenas você, se sente? Como destrinchar os pensamentos e experiências
genuinamente suas dentre tantos recortes e linhas? E para dificultar ainda mais,
como responder às questões com honestidade sem receio de ferir pressupostos
elaborados previamente por nós e para nós? Pressupostos estes embasados em
experiências que não são efetivamente nossas.
Não somos apenas a imagem
refletida no espelho, não somos o que pensamos e muito menos o que pensam de
nós. Somos um emaranhado de histórias, um grão de areia no fundo do oceano, pinceladas de um quadro Renascentista. Um, talvez não tão mero, detalhe.
Uma reflexão
que aprecio muito e sempre uso quando tenho que responder "Quem sou eu":
"O que é o eu*? Isto é,
de que substância é feito o nosso eu? Pois bem, a resposta da psicanálise é
muito clara: somos feitos de todas as marcas que deixam em nós os seres e as
coisas que amamos fortemente agora ou que amamos fortemente no passado e às
vezes perdemos. Isto é, os seres e as coisas com os quais nos identificamos.
Então, quem sou eu? Sou a memória viva daqueles que amo hoje e daqueles que
amei outrora e depois perdi. A identificação é aquilo que me faz amar e ser o
que sou". (NASIO, J. -D. O Prazer de ler Freud. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 1999, p. 84).