Carta para Carolina de 60 anos.

Olá Carolina. Dona Carolina? Senhora Carolina? Não tenho ideia como a chamarão daqui 30 anos... muito menos se nós chegaremos a esta idade, enfim... São tantas dúvidas que pairam em minha cabeça agora, minha imaginação flui ao tentar me visualizar, pela primeira vez, como uma mulher experiente e vivida de 60 anos (acredito que termos como “terceira idade” e “idoso” cairão em desuso).
Primeiro gostaria de pedir desculpas, possivelmente você se olhe no espelho e lembre-se da falta de vaidade que tivemos ao longo de nossas vidas, da falta de exercícios físicos, das bebidinhas aos finais de semana e dos remédios tomados sem prescrição médica (é óbvio que isso não deva fazer bem, mas em dois mil e alguma coisa ainda tínhamos essa “mania”). Em contrapartida, a gente come um pouco melhor do que a maioria da população, opta por frutas e verduras sempre que tem chance, evita gordura, não fuma e come doces só quando a vontade bate. E nunca usamos drogas!
Eu tenho dificuldades de memória hoje, então imagino que você já tenha esquecido a primeira frase desta carta, risos. Sim, você está lendo uma carta de você aos 30 anos. Não, você não se lembra que escreveu... Óbvio.
Nesta última década estamos vivenciando um momento de ruptura no mundo (encorajo-me a ampliar a visão e não citar apenas o Brasil), estamos em uma transição ferrenha entre o saudosismo de uma época dita como “boa” (anos 80 e 90), reproduzindo ideais e valores que, embora não façam sentido hoje, fazem com que as pessoas se sintam pertencentes, além, é claro, de uma grande falta de perspectiva a longo prazo. Engraçado, Nando Reis já dizia que o “mundo está ao contrário e ninguém reparou” em pleno anos 2000 e agora, dezesseis anos depois, o mundo está mais ao contrário do que nunca, estamos todos perdidos em uma onda de ódio e desrespeito que assusta.
Isso me faz refletir: ainda existe mundo como conhecemos aí em 2046? O caos já se instalou nas grandes metrópoles? Como lemos a história do “meu mundo atual” ao longo desses 30 anos? Desculpe, sei que são muitas perguntas e só o tempo responderá.
Eu espero, do fundo do meu coração, que a sociedade tenha “tomado jeito”. Que o amor e a paz sejam a escolha da maioria e que a “liberdade” não prejudique o respeito, como vem acontecendo agora. Também espero que estejamos bem, sei que você é fruto das minhas escolhas de hoje e por isso espero que nossas escolhas ao longo desta caminhada tenham sido as mais apropriadas.
Somos profundas de corpo, alma e coração, não estamos acostumadas em viver no raso, contudo estou buscando alguma leveza hoje para, quem sabe, mais para frente, conseguirmos viver em equilíbrio. Acredito piamente que nosso ar de juventude perpetuará por toda a eternidade, que nosso lado criança sempre existirá e fará a diferença em nossas possíveis próximas décadas. 
Sabemos que não serão anos fáceis, muitas pessoas deixarão de existir corporalmente, por isso estou buscando, nos últimos anos, viver momentos inesquecíveis para que você tenha lindas memórias (eu adoro fotos, então devo ter registrado quase tudo!). Busco dizer que amo a quem me importa, a abraçar com o coração àqueles que estimo e ouvi-los, enxergá-los genuinamente. Espero que desta forma você não tenha tantos pesares que a assombre agora, que a faça olhar para trás com a consciência tranquila de quem fez o que e como pôde.
Carolina, almejo que você se orgulhe desta história que estamos criando com tanto afinco e cuidado. Se você, por acaso, questionar algumas das minhas atitudes, acredite: eu realmente achei que era a melhor opção. Eu estou fazendo o melhor que posso para que possamos usufruir de uma aposentadoria boa e tranquila (se ainda existir aposentadoria daqui a 30 anos, se por acaso desconhecer a palavra procure na internet).

A verdade é que não sei se nos encontraremos, não sei se partilharemos deste sentimento que transcrevo hoje e, tampouco, se quem você se tornará daqui 30 anos goste da minha iniciativa. Possivelmente você também não se identificará comigo, assim como eu não me identifiquei com a Cá de 18 anos, na verdade espero que você não se identifique, pois isso significa que nós crescemos e amadurecemos, que somos melhores do que hoje. E continuamos buscando por aprendizado, querendo nos tornar seres-humanos dignos e iluminados.
Você sabe que eu amo você ontem, hoje e para todo o sempre.
Espero vê-la, mas não tão breve, risos,... fique com Deus.

Beijos,
Carolina Malaquias - 30 anos.

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