Minha vivência na área social... MSE.

Escrevi este texto para clarear uma amiga que iria iniciar os atendimentos em um Serviço de Medida Socioeducativo (MSE)... hoje percebo que a maioria do que está escrito aqui pode ser utilizado em quase todos os contextos.

 

 

Atender adolescentes em medida socioeducativa é muito interessante, contudo demanda muito tempo, energia e sutileza. Os adolescentes, em sua essência, tendem a mentir e omitir fatos, utilizar metáforas e histórias para apresentar um ponto de vista. Fato que é intensificado no atendimento àqueles que cumprem medida socioeducativa.

  Sempre utilizei uma tática: acredite no que ele disser piamente; torne o ambiente um local de confiança e de vínculo positivo; aponte detalhes e demonstre que está atenta às histórias e aos personagens; quando o vínculo estiver estabelecido confronte-o cuidadosamente e de forma sutil.

Quando eu atendia sempre fazia poker face, ouvia as histórias e tentava apontar algo evitando ser agressiva, mas sendo taxativa. Um bom detalhe é evitar os preconceitos e as ideias formuladas, cada história tem vários lados... não se contente com apenas um e se ficou na dúvida ligue para a mãe, para o pai, para o irmão, chame-os para um atendimento individual.

A visita é mágica (embora seja, em muitas vezes, dolorosa) e pode ser uma ótima ferramenta para estreitar os laços, verificar e conhecer histórias, fatos. Adoro fazer visita porque acredito que amplia nossa visão de mundo, em especial o mundo daquela família e conseguimos entender melhor as relações familiares e o cotidiano.

Tome cuidado com atendimentos coletivos, só os faça se estiver plena certeza do que será tratado e como a reunião será realizada, porque minha experiência foi um pouco negativa, eles tendem a falar sobre criminalidade, porém, ao mesmo tempo, será importante para conhecê-los fora da sala de atendimento. Normalmente eles mostram uma nova vertente em cada situação: passeio, atendimento individual, atendimento coletivo e atendimento com as famílias.

Evite, embora seja difícil, tomar partido dos adolescentes que você atende, pois tendemos a ser “corujas” com eles e, muitas vezes, interfere no nosso atendimento e na “socialização” do adolescente.

A ideia de “socialização” pode ser um tanto quanto higienizadora, especialmente na medida “prestação de serviços à comunidade”, que normalmente é vexatória e nada socioeducativa. Os adolescentes sofrem muito preconceito por estarem cumprindo medida socioeducativa tanto na escola quanto no dia a dia e muitos utilizam isso como uma defesa para atacar a sociedade, você vai perceber quantos “senhora” vão ser cuspidos diariamente.

Atente-se aos seus sentimentos, eles dirão mais do que você imagina e não desconfie do seu “sétimo” sentido, facilmente ele não vai falhar e você conseguirá levar os atendimentos de forma amigável. Tente ler nas entrelinhas, às vezes “a” significa “droga”, às vezes “a” significa “a” mesmo, risos, e em outro momento “a” significa “cabelo”, sei lá.

 

Esses são algumas coisas que aprendi no decorrer dos meus atendimentos, mas fique bem aberta para novos aprendizados e novas experiências. O MSE facilmente vai mudar você, ainda mais, mas isso não significa que será de uma forma ruim, enfim...